domingo, maio 13, 2007
Imagens radioativas
O Japão sempre foi um celeiro para imagens apocalípticas: basta ver qualquer um dos filmes de Inoshiro Honda, como Godzilla (Gojira, 1954) para observarmos de perto esse fenômeno, bastante compreensível tendo em vista o fato do Japão ter sido o primeiro – e até o momento, único – país a conhecer a destruição provocada por armas atômicas. As marcas traumáticas da aniquilação das cidades de Hiroshima e Nagasaki imprimiram profundas, indeléveis marcas no imaginário daquele país.
É dentro desse contexto que podemos colocar as imagens do fotógrafo japonês Hisaharu Motoda, especialmente na série de apocalípticas litografias batizada Neo-Ruins. Nas imagens de Motoda, as paisagens conhecidas de Tóquio dissolvem-se em camadas acinzentadas e ocres, perdendo toda a identidade que mantinham. Também não se trata de uma laudatória "arquitetura das ruínas", como aquela proposta pelo arquiteto nazista Albert Speer. As ruínas de Motoda são vazias e a sensação que temos ao contemplar essas massas informes – até os ceús são cinzentos e mortos – é de distanciamento, como se estivéssemos diante de fotogramas perdidos entre o registro real de uma guerra e o retrato virtual de um apocalipse encenado no cinema. O clima é pós-apocalíptico, pois as ruínas são peças fantasmas de catástrofes futuras, como premonições do destino das inchadas metrópoles ameaçadas pelo terrorismo global. A pesada granulação da técnica litográfica aplicada por Motoda garante esse estranho aspecto de passado que ainda não ocorreu, de futuro projetado na tela do passado.
- Uma pequena nota sobre os trabalhos de Motoda saiu no blog da revista Wired.
- Uma nota com várias imagens impressionantes apareceu no blog Pink Tentacle.
- O site oficial de Hisaharu Motoda.
Via BLDGBLOG.
Alcebiades Diniz Miguel