sexta-feira, maio 14, 2010

Sua Majestade Lula - Parte II

Instantâneos do culto da personalidade de corte comunista totalitário: Stalin, Mao Tse-Tung e a variante brasileira, Lula, o Filho do Brasil.

O culto da personalidade chegou ao auge com Lula, o Filho do Brasil, a cinebiografia de Sua Majestade lançada com 500 cópias, número inédito para um filme nacional, produzida pela Família Barreto com um montante de R$10,8 milhões em doações de empresas, a maioria delas financiadas em seus negócios pelo BNDES ou contratadas para a execução de obras e serviços do governo federal. Entre os doadores privados para a produção do filme destacou-se o empresário Eike Batista com a doação de US$ 1 milhão. Ele já havia financiado a campanha da reeleição de Lula doando US$ 1 milhão. Logo ele ocupava o 142º lugar na lista dos homens mais ricos do mundo com uma fortuna estimada em 6,6 bilhões de dólares em 2008, passando para o 61º lugar em 2009 e para o 8 º lugar em 2010, tornando-se, com uma velocidade espantosa, o homem mais rico do Brasil, com uma fortuna aproximada de 27 bilhões de dólares. O diretor do filme, Fábio Barreto, inspirou-se na biografia de Lula da jornalista Denise Paraná, fazendo pequenas adaptações:

NO FILME

NO LIVRO

Aristides, pai de Lula, esbofeteia o filho e avança para a esposa Lindu, mas Lula impede que ele bata em Lindu.

Aristides bate em Dona Lindu com uma mangueira, e avança para o filho, mas Dona Lindu impede que ele bata em Lula.

Impressionada com Lula na escola, a professora Terezinha se oferece para adotar o menino: “A senhora não quer que ele seja alguém?”. Dona Lindu responde altiva: “Ele já é alguém. Ele é Luiz Inácio”.

Quando Lula morava em Santos e Dona Lindu quis se mudar para São Paulo, a professora Terezinha insinuou que poderia adotar o menino para que ele pudesse continuar estudando em Santos.

Durante o linchamento de um diretor de fábrica Lula diz ao irmão sindicalista: “Ele também é um trabalhador”.

Sobre o linchamento do diretor de fábrica Lula comentou: “Eu achava que o pessoal estava fazendo justiça”.

Lula descobre corrupção no Sindicato dos Metalúrgicos e cobra, indignado, o afastamento do presidente da entidade.

Não há nenhuma referência a isso na biografia de Lula que serviu de base para a realização do filme. (Fonte: Veja)


Embora o diretor Barreto tenha sofrido um acidente de carro pouco depois da estréia do filme, permanecendo em coma até hoje, nada apagou o brilho deste que foi o maior lançamento da história do cinema brasileiro. Contudo, apesar de todo o empenho da propaganda, o filme acabou fracassando nas salas comerciais: poucos se animaram a ver a cinebiografia de um presidente em exercício, sabendo que nada de grandioso ou terrível, de escandaloso ou chocante, de picante ou indecente poderia ser aí apresentado. A previsão era de 5 milhões de espectadores. O filme vendeu 102 mil ingressos no segundo fim de semana de exibição – um resultado medíocre considerando as 430 salas que suas cópias ocuparam. No mesmo período, Alvim e os esquilos II vendeu 640 mil ingressos. Mas a carreira forçada de Lula, o filho do Brasil grotões adentro ainda não começou: as centrais sindicais planejam projetá-lo nas áreas mais pobres do país com ingressos subsidiados; o DVD do filme será lançado no Dia dos Trabalhadores, em 1º de maio; a Rede Globo deve exibir a fita editada em minissérie, etc.

Em abril de 2010, Sua Majestade Lula deu as caras na TV Bandeirantes, depois de anos sem se dignar a falar com a “antiga imprensa”. Sobre a liberdade nas mídias disse desconhecer país que não a tenha (Datena lembrou Cuba, mas Sua Majestade fingiu não ouvir). Boris Kasoy, fragilizado pela revelação de sua militância juvenil no Comando de Caça aos Comunistas, documentada num número de 1968 da antiga Revista Cruzeiro, e pelo processo que lhe moveu o sindicato dos garis, por uma sua desavisada e infeliz declaração discriminatória, ousou confessar seu temor do controle da informação pelo governo. Sua Majestade então gritou (tendo aprendido com Hitler, um dos líderes que admirava na juventude, como vencer um debate – sobrepondo seu vozeirão ao sussurro tímido do antagonista assustado): “Você não foi à reunião que decidiu isso, Boris? Pois devia ter ido. Agora é assim! As decisões são tomadas nos debates! Depois não adianta reclamar!”.

A lógica petista de Sua Majestade faz lembrar a de Maria Antonieta expressa na famosa frase que lhe foi atribuída: “S’ils n’ont pas de pain, qu’ils mangent de la brioche!”, ou seja, “Se eles [os pobres] não têm pão, que comam bolos!”. Mas duvido que, se ela proferiu a frase, o tenha feito aos berros. A nobreza era cínica e cruel, mas não totalitária (como os revolucionários adeptos da guilhotina funcionando a todo vapor). Já na democracia petista agora é assim: vence quem grita mais alto. As medidas autoritárias são tomadas após reuniões e debates aterradores em que os militantes exercitam orgasticamente sua “novilíngua”, zelando em maioria pelo triunfo das diretrizes da cúpula; as discussões desenrolam-se ritualisticamente, encetadas apenas para legitimar, com a chancela do “debate democrático”, as decisões já tomadas nas instâncias superiores, que triunfam sempre (basta lembrar que a queda da CPMF foi a única derrota do governo até hoje). É o modelo da “democracia popular” e da “democracia direta” que Sua Majestade importou dos regimes comunistas, e que será aprofundado no reinado da princesa Dilma.

Sua Majestade Lula descartou qualquer censura à imprensa, acrescentando ser preciso, contudo, fazer alguma coisa contra a violência na TV, pois de manhã à noite só vê crimes e tiros na telinha. Datena lembrou que os noticiários policiais cobrem o que se passa nas ruas e para se acabar com a violência deve-se cuidar da segurança: “Se eu apresentasse um programa de TV na Suíça não cobriria crimes”, observou, acrescentando que, no Brasil, política e crime estão andando juntos – as reportagens policiais viram reportagens políticas e vice-versa. Sua Majestade estranhou a idéia, e Datena exemplificou com o caso do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, acusado de corrupção, e que se encontrava preso sem condenação da Justiça. Lula retrucou com uma frase profunda e inquietante: “O que vem primeiro, o ovo ou a galinha?”. Com isso Sua Majestade sugeria que as imagens e os dados transmitidos pela TV produziam a violência, independentemente das condições sociais e materiais da recepção: pobreza crônica, desemprego em massa, moradias faveladas, falta de educação, famílias desagregadas, tráfico corruptor, etc. A TV deveria ser, pois, censurada, pois os telejornais estariam a cobrir uma violência que eles próprios gerariam... O fracasso da administração de Sua Majestade (nos quesitos educação, moradia, emprego, segurança, etc.) estaria assim resolvido.

Sobre o caso Arruda, propriamente, nenhum jornalista lembrou-se de indagar porque o governador foi imediatamente preso (seguindo-se a isso uma campanha infernal de imprensa sobre o “mensalão do DEM”) enquanto Lula, Dirceu e todos os mensaleiros do PT ficaram soltos após as denúncias do mensalão do governo. Enquanto o mensaleiro do DEM foi imediatamente preso “para não destruir provas” os mensaleiros do PT puderam permanecer livres com advogados a tiracolo zelando para que não abrissem o bico, destruindo todas as provas, governando o país e enriquecendo ainda mais. Ou seja, corrupto do PT pode, do DEM vai preso sem direito a habeas corpus. Na mesma semana em que a Justiça negou a Arruda prisão domiciliar, um Juiz mandou soltar os presos (ladrões, assassinos, estupradores) que estavam em containers no Espírito Santo por serem aquelas condições de prisão desumanas. De fato, a prisão dos criminosos em containers era um verdadeiro campo de concentração de tipo nazista como “nunca antes neste país” se vira igual. Mas a solução era soltar os criminosos sem teto, condenados pela Justiça? Por que não processar os responsáveis por aquela barbárie nazista e construir para os criminosos presídios decentes? Ou seja, soltar criminoso condenado pela Justiça pode, mas soltar políticos da oposição acusados de corrupção sem culpa provada, não...

Pouco se falou também da pretensão de Sua Majestade de levar a paz ao Oriente Médio. Caiu mal na comunidade judaica a recusa de Sua Majestade em visitar o túmulo de Theodore Herz, cujo sonho de um Estado Judeu se concretizara no Estado que Lula visitava, e cuja existência ele reconhecia na visita oficial, a primeira de um presidente brasileiro. Mas ao recusar homenagear aquele que sonhara o Estado em que era recebido, Lula deixou implícita sua rejeição ao sionismo, ou seja, ao Estado que visitava. Alguns interpretaram sua recusa como politicagem: na qualidade auto-atribuída de Mediador do Conflito (como ele e outros delirantes o imaginam), ele não poderia ofender os palestinos homenageando o idealista que sonhou o Estado Judeu (ainda que pudesse ofender os judeus vitimados pelo terror palestino depositando flores no túmulo de Arafat).

A embaixadora israelense Dorit tentou colocar panos quentes na situação, sugerindo que Lula talvez ignorasse quem fora Herz. Mas Sua Majestade (“não sei de nada”) sabia de tudo, informado pelos muitos assessores judeus (empresários de esquerda, ideólogos marxistas, neo-stalinistas pacifistas) que o acompanharam na viagem. Além disso, Marco Aurélio “Top Top” Garcia e o ex-diretor da Embrafilme, Celso Amorim, hoje alguma coisa no exterior, certamente aconselharam Sua Majestade Mediadora a não dar esse faux-pas. Na lista dos integrantes do trem de alegria de Sua Majestade rumo ao Oriente Médio divulgada pela CONIB não percebi nomes árabes. Só nomes judeus. Os assessores palestinos, islamitas, árabes, teriam tomado outro trem da alegria à espera de Sua Majestade à saída de Israel? E os amigos e assessores judeus? Continuaram com Sua Majestade nos países árabes, numa comitiva ecumênica juntando assessores judeus e assessores árabes, todos a incentivar a paz? Ninguém comentou esse pormenor.

Parece que, entre os dignitários judeus que acompanhavam Sua Majestade, apenas a assessora Clara Ant e o Governador da Bahia, Jaques Wagner, seguiram para a Palestina e a Jordânia. A assessora Ant criticou os judeus que criticaram Sua Majestade na carta aberta “Colecionador de Amizades” (epíteto que Shimon Peres cunhou para Sua Majestade Lula), onde observou que entre 2003-2008, o intercâmbio comercial entre Brasil e Israel mais que triplicou, saltando de US$ 506 milhões para US$ 1,6 bilhão, fazendo do Brasil o principal parceiro comercial de Israel na América Latina; e que o Acordo de Livre Comércio entre MERCOSUL e Israel – o primeiro do bloco sul-americano com um país de fora das Américas – alargará ainda mais esses promissores horizontes de negócios.

Ex-trotskista, Clara Ant observou que, além da agenda oficial, ocorreram encontros com lideranças de organizações pacifistas, certamente estreitando os laços do Brasil com os inimigos de Israel dentro de Israel. Um dos pontos altos da viagem foi, a seu ver, a visita ao novo Museu do Holocausto. Mas pelo que pudemos perceber na mídia, enquanto Dona Marisa sorria em seu vestido rosa-choque, encantada com a parede tomada pelas fotos das vítimas do Holocausto, Sua Majestade repetia “nunca mais, nunca mais, nunca mais”, sugerindo que esse memorial às vítimas da “irracionalidade humana” deveria ser de conhecimento obrigatório para todos aqueles que queiram dirigir uma nação. Sua Majestade diluía o complexo fenômeno do antissemitismo, do nazismo e do Holocausto na “irracionalidade humana”, criticando pelas costas o amigo iraniano Mahmud Ahmadinedjad, negador do Holocausto, que Lula não hesitava em receber em palácio, num ato de “irracionalidade humana” que Clara Ant não percebia como tal nem condenava.

No Museu, Sua Majestade depositou uma coroa de flores para todas as vítimas do extermínio nazista, repetindo o que fizera na entrada do Congresso em memória dos soldados israelenses mortos nos conflitos regionais. Sua Majestade defendeu enfaticamente a existência do Estado de Israel, soberano, seguro, pacífico, convivendo, lado a lado, com um Estado Palestino soberano, seguro, pacífico. E se os palestinos não se contentarem com um Estado seguro, soberano, pacífico, convivendo, lado a lado, com um Estado judeu soberano, seguro, pacífico? E se os judeus não admitirem que seu Estado seja povoado por uma maioria árabe ditando as regras, suprimindo sua liberdade de determinar seu futuro? Ora, no Brasil, judeus e árabes “vivem em perfeita harmonia”. Por que não no Oriente Médio? Será porque lá eles vivem outra dimensão da História? Sua Majestade não dá bola para a História. Por isso ele foi lá brandir sua credencial de Mediador da Paz, levando uma importantíssima mensagem pacifista àqueles ignorantes.

Somente a grande historiadora Anita Novinsky, em breve recado a Clara Ant na Rua Judaica(1), para perceber como certa ideologia tem deformado a linguagem, em deslizamentos de sentidos que contaminam toda a mídia. Finalmente alguém notou a visão deformada sobre o sionismo como suposta “criação” de um ideólogo. A ojeriza de Sua Majestade Lula em visitar o túmulo de Herzl é coerente com o programa petista que condena o sionismo, mas compromete sua autoconcedida credencial de Mediador, a levar sua tão importante, tão inédita, mensagem de paz aos ignorantes belicosos do Oriente Médio. Para Ant, “nunca antes aconteceram” entre Israel e Brasil o que agora acontece com Sua Majestade; por isso, “seria muito bom que a comunidade [judaica] no Brasil conhecesse e pudesse debater a pluralidade de posições que existem lá em Israel [...]. Um professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, que já dirigiu o Mossad [...] defende [...] a necessidade de envolver o Hamas num acordo. Muitas vezes a maneira como são tratadas algumas diferenças no interior da comunidade [judaica brasileira] me lembram o absurdo do pensamento único imposto pelo stalinismo, que eu sempre combati. Da mesma forma que o anticomunismo (ou o anti-socialismo) me faz lembrar que o primeiro golpe dado por Hitler foi conseguir maioria a partir da retirada dos comunistas do parlamento.” Aqui, a “ex-trotskista” Clara Ant, citando o vago exemplo do “professor ex-Mossad” simpático a “acordos com o Hamas”, assimila a comunidade judaica brasileira (supostamente ignorante do pluralismo de Israel) a Hitler e a Stalin, dando continuidade ao pensamento trotskista reformado em petismo, que nas incessantes investidas de Sua Majestade no exterior parece querer emular a revolução permanente de Trotski...

Nota

(1) “Tudo que você disse é verdade. Mas a repercussão de certa atitude e frases pronunciadas pelo nosso presidente surpreendeu os que o admiravam. Afinal, ele não ia depositar flores no túmulo do "criador" do sionismo. Sionismo existe desde que existe o povo judeu. Herzl apenas procurou uma pátria como solução para a tragédia do povo judeu, depois dos massacres na Rússia, explicando, esclarecendo e abrindo os olhos do mundo de que a causa de tanta dor era a falta de um território nacional. E apenas por curiosidade, para relembrar a história, foi um português, Damião de Góis, que disse exatamente isso, no século XVI.” NOVINSKY, Anita. Querida Clara Ant. Tribuna do Leitor, Rua Judaica, 4/5/2010.

Luiz Nazario