Na primeira década do século XX, o banqueiro, filantropo e internacionalista francês Albert Kahn deu início a um ambicioso projeto: criar processo de revelação fotográfico colorido que fosse mais simples que os complexos processos de colorização empregados à época. A meta de Kahn era utilizar a fotografia colorida como registro realista dos povos do mundo, registro esse que serviria para superar as diferenças e promover o congraçamento dos povos através da arte mediada pela técnica. Trata-se de uma messiânica tentativa de superação do caos babélico através da fascinante representação direta da realidade cotidiana que é a fotografia, muito próxima da concepção de um D. W. Griffith, que imaginava ser o cinema silencioso a ferramenta decisiva para superar a universal barreira nacionalista ao oferecer ao mundo um produto estético de infinita sofisticação e que dialogava com todos os povos da Terra.
Kahn enviou fotógrafos para mais de 50 países, registrando em primeira mão as mais diversas peculiaridades culturais de uma época condenada pelas catastróficas guerras mundiais, milagres econômicos e globalizações. Os primeiros registros fotográficos coloridos conhecidos de países como Brasil, Noruega e Mongólia devem-se aos esforços de Kahn e de seus colaboradores. Contudo, o utópico projeto não sobreviveu à crise ocasionada pelo Crack na bolsa de valores de Nova Iorque em 1929; a morte de Albert Kahn, em 1940, encerraria definitivamente o projeto e a popularização da técnica por ele criada, os autocromos.
Vendo, nos dias de hoje, as fotografias do acervo de Kahn, percebemos a delicadeza possível das cores na fotografia, uma delicadeza em tudo oposta às modernas tendências de cromatismo agressivo visando um "realismo" total na captura do instantâneo. Nos autocromos, percebemos o ruído, a distorção cromática como que de uma foto preto e branca colorizada posteriormente. Talvez por causa disso, as cores pareçam suaves – como que saídas da paleta de um pintor impressionista ou pontilhista –, desmaiadas e artificiais como em um antigo filme em technicolor.
A fascinante vida de Albert Kahn, bem como sua imensa coleção de autocromos – cerca de 72000 –, antes na sombra, foram trazidos novamente ao primeiro plano com o lançamento de uma série de televisão e de um livro, ambos da BBC. Com curatoria de David Okuefuna, o projeto The Woderful World of Albert Kahn oferece um mergulho no universo dos autocromos e de seu criador, personagem complexo e pouco conhecido na história do audiovisual.
Mais autocromos podem ser vistos neste site.
Alcebiades Diniz Miguel
Kahn enviou fotógrafos para mais de 50 países, registrando em primeira mão as mais diversas peculiaridades culturais de uma época condenada pelas catastróficas guerras mundiais, milagres econômicos e globalizações. Os primeiros registros fotográficos coloridos conhecidos de países como Brasil, Noruega e Mongólia devem-se aos esforços de Kahn e de seus colaboradores. Contudo, o utópico projeto não sobreviveu à crise ocasionada pelo Crack na bolsa de valores de Nova Iorque em 1929; a morte de Albert Kahn, em 1940, encerraria definitivamente o projeto e a popularização da técnica por ele criada, os autocromos.
Vendo, nos dias de hoje, as fotografias do acervo de Kahn, percebemos a delicadeza possível das cores na fotografia, uma delicadeza em tudo oposta às modernas tendências de cromatismo agressivo visando um "realismo" total na captura do instantâneo. Nos autocromos, percebemos o ruído, a distorção cromática como que de uma foto preto e branca colorizada posteriormente. Talvez por causa disso, as cores pareçam suaves – como que saídas da paleta de um pintor impressionista ou pontilhista –, desmaiadas e artificiais como em um antigo filme em technicolor.
A fascinante vida de Albert Kahn, bem como sua imensa coleção de autocromos – cerca de 72000 –, antes na sombra, foram trazidos novamente ao primeiro plano com o lançamento de uma série de televisão e de um livro, ambos da BBC. Com curatoria de David Okuefuna, o projeto The Woderful World of Albert Kahn oferece um mergulho no universo dos autocromos e de seu criador, personagem complexo e pouco conhecido na história do audiovisual.
Mais autocromos podem ser vistos neste site.
Alcebiades Diniz Miguel