A aposta que, em geral, se faz em torno da fotografia é a da representação mimética mais imediata à natureza do objeto representado. A intervenção fantástica, em fotografia, costuma ser vista como algo restrito ao mundo, hoje pasteurizado pela tecnologia digital massificada, da fotomontagem. Contudo, a fotografia pura pode representar/criar universos fantásticos com efeitos simples (enquadramento, exposição, etc.) mas bem estruturados, como bem demonstram as imagens de uma Paris perturbadoramente deserta nas fotografias de Atget ou o universo em tons cinza pesadamente granulados de Sudek.
Retomando essa tradição, o fotógrafo russo Alexey Titarenko cria todo um universo de pesadelo apenas pelo uso de longas exposições para a captura de suas imagens. Com a luz penentrando por mais tempo no filme e a impossibilidade de fixação dos fluxos de pessoas que passam pela lente de sua câmera, a fotografia de Titarenko retira o universo urbano de sua trivialidade cotidiana em figurações infernais e apocalípticas. Basta ver, por exemplo, as imagens da Venice Series, que poderiam ser traduções fotográficas do filme Inverno de Sangue em Veneza (Don't Look Now, 1973) de Nicholas Roeg.
Já a série City of Shadows apresenta imagens ainda mais contundentes, nas quais a população de São Petesburgo surge como uma maré enegrecida e infernal. Quando um rosto chega a ser captado, seus traços distorcidos pela luz excessiva acentuam o caráter de pesadelo do universo ao redor.
- Portfólio digital de Alexey Titarenko.
Alcebiades Diniz Miguel