quarta-feira, junho 14, 2006

A Explosão do DVD no Brasil

Creio que foi em 1994, recém-chegado da Alemanha para defender na USP minha tese de doutorado sobre o cinema nazista, que importei meu primeiro aparelho de DVD. Naquela época, os discos existentes no Brasil eram todos importados e somente as megastores culturais, como o extinto Shopping Ática Cultural – um paraíso perdido... –, Saraiva e FNAC possuíam alguns poucos títulos, geralmente de blockbusters americanos, e umas caixas tentadoras, como as coleções Alfred Hitchcock. Mais tarde, a descoberta de uma casa que importava filmes de arte em DVD, a Laserland, trouxe-me uma alegria nova, mas efêmera, pois com o real desvalorizado tornou-se impossível comprar ali todos os discos que eu ambicionava possuir. Lembro-me ainda de que o primeiro filme lançado em DVD no Brasil foi Era uma vez na América, de Sérgio Leone. A Gradiente tentara difundir um aparelho de DVD desbloqueado, que logo foi retirado do mercado.

Em 1999, conversando com Fred Botelho, da 2001 Vídeo, afirmei que o DVD era o futuro do cinema, e que se fosse esperto, deveria apostar na venda de DVDs, pois os VHS estavam com os dias contados. É possível que tenha me ouvido, pois logo a 2001, investindo na comercialização de DVDs, cresceu rapidamente e multiplicou suas lojas. Como depois constatou o presidente da União Brasileira de Vídeo, Wilson Cabral (Jornal do Vídeo, novembro de 2003), o mercado do DVD consolidou-se no Brasil em 2002, com quase 4.990.000 unidades vendidas no ano e uma projeção de venda calculada em 7.800.000 para 2003: um crescimento anual de 40%...

Diferentemente do que ocorria com o VHS, que só vendia no varejo títulos para o público infantil, com o DVD o consumidor adulto passou a desejar possuir os filmes em live action: o colecionismo cinematográfico difundiu-se na classe média alta, e o DVD firmou-se como um dos principais “presentes de Natal”. Finalmente, com a estabilidade econômica, as vendas a crédito levaram o consumo dos aparelhos de DVD até as classes B e C, incrementando ainda mais o mercado varejista dos discos versáteis digitais. Essa explosão inundou as lojas e, em seguida, até os jornaleiros com um mar de títulos. A quantidade, dizia Karl Marx, gera a qualidade, e assim o mercado brasileiro assistiu ao surgimento de empresas diferenciadas que passaram a apostar em filmes clássicos, de arte, ensaio, vanguarda e cult.

Para citar apenas alguns exemplos de selos e lançamentos, depois da Continental (que lançou as caixas Expressionismo, Cinema Revolucionário Russo, Fritz Lang, Akira Kurosawa, Andrei Tarkovski, entre outras) e da Versátil (que lançou as coleções Federico Fellini, Roberto Rosselini, Franco Zeffirelli, Michelangelo Antonioni, Vittorio De Sica, Ingmar Bergman, etc.), o selo independente Magnus Opus apresentou a caixa Tour de France, com clássicos do cinema francês; O Horror Silencioso, com as fascinantes fantasias expressionistas O gabinete das figuras de cera e O homem que ri, de Paul Leni, e a intrigante produção sueca Häxan – A feitiçaria através dos tempos, do dinamarquês Benjamin Christensen; Cinema Fantástico, incluindo três cults do horror: Monstros, de Tod Browning, Zaroff – Caçador de vidas, de Ernest Schoedsack e Merian C. Cooper, e Sangue de pantera, de Jacques Tourneur; a caixa Carl Dreyer, com sete obras deste diretor; Cinema Avant-Gard e Animazing, reunindo diversas preciosidades do cinema experimental e de animação; a Classicline inundou o mercado com filmes antigos em edições baratas, às vezes resgatando pérolas, como Primavera, de Robert Z. Leonard; a Editora NBO lançou a preço de banana obras representativas do cinema inglês, incluindo Farsa diabólica, de Bryan Forbes, e clássicos dourados de Michael Powell, Emeric Pressburger e David Lean; e entrando no mercado de arte em grande estilo, superando a Magnus Opus em seu campo, a distribuidora Aurora está lançando uma série bem cuidada de maravilhosos filmes noir, como Silêncio nas trevas, de Robert Siodmak. No cinema, o futuro do passado é cada vez mais promissor para os verdadeiros cinéfilos.

Links:

http://www.dvdcontinental.com.br/
http://www.dvdversatil.com.br/
http://www.magnusopusdvd.com.br/
http://www.auroradvd.com.br/
http://www.laserland.com.br/
http://www.2001video.com.br/

Luiz Nazario