Desde Metropolis (idem, 1928), de Fritz Lang, a vocação visionária da ficção científica no cinema centrou-se no apocalipse de grandes, sinistras, decadentes e corrompidas cidades, nas quais a tecnologia contribui decisivamente para a universalização da barbárie. Nessa mesma tradição, Blade Runner, o Caçador de Andróides (Blade Runner, 1982) e o recente Eu sou a Lenda (I am Legend, 2007), de Francis Lawrence, retrabalham visual e narrativamente o tema, oferecendo a visão fascinante de cidades futuristas tão devastadas quanto seus habitantes. Nesse sentido, não é exagerado afirmar que o animador e quadrinista japonês Katsuhiro Otomo tenha a consciência apocalíptica mais clara dentro no cinema dos dias de hoje. toda sua obra baseia-se na visão da destruição em tom superlativo: não é por acaso que em sua refilmagem muito pessoal de Metropolis, filme infelizmente prejudicado pela estereotipada narrativa derivada da tradição dos mangás, a melhor seqüência seja a da destruição da torre central da cidade, evocação/reconstrução da torre imaginada pela cenografia expressionista no filme de Lang, ao som de "I Can't Stop Loving You" de Ray Charles.
Nesse sentido, a obra-prima de Otomo é a animação Akira (idem, 1988), adaptação animada de uma série de mangás escritos e desenhados pelo próprio Otomo. Obra de produção intrincada - consistindo de 2212 tomadas a partir de 160.000 desenhos, uma quantidade 2 a 3 vezes maior que a usual, usando 327 cores diferentes sendo que mais de 50 delas foram criadas especialmente para o filme - foi a mais cara animação produzida no Japão até então. O resultado é uma sucessão de imagens que se gravam na retina pela força de seu impacto, desde as perseguições de moto até a apocalíptica destruição de NeoTokyo, cidade surgida dos destroços da antiga Tóquio e destinada a uma nova devastação. A movimentada trama, centrada nas lutas entre gangues e grupos políticos em torno de um poderoso grupo de paranormais criados para serem armas vivas nas mãos de organizações militares - derivada do universo de Brian de Palma e David Cronenberg - alcança os limites do delírio graças ao traço de Otomo, superior ao estilo tradicional dos animês, e à sua cuidadosa direção. Akira revelou ao grande público os estilos típicos de animação e quadrinhos de massa no Oriente, os mangás e animês de temática adulta, que logo chegariam à televisão. Filmes de ficção científica como a trilogia Matrix teriam forte inspiração no imaginário de Otomo. Não por acaso, a Warner já anunciou uma refilmagem live action de Akira a ser lançada como dois longas-metragens, superprodução que será dirigida pelo estreante Ruairi Robinson.
A edição brasileira do DVD, da Focus Filmes, está calcada na edição norte-americana da Geneon/Pioneer. Trata-se da versão restaurada, lançada em 2001, que custou cerca de US$ 1 milhão, resgatando o universo apocalíptico de Otomo de forma suntuosa. É possível encontrar outras animações desse criador japonês fora de catálogo no Brasil em lojas virtuais: Memories (idem, 1995), coletânea de três curtas animados apresentada por Otomo, que dirige um deles (os outros dois são dirigidos por Koji Morimoto e Tensai Okamura). Trata-se de uma pequena obra-prima da animação, que merecia ser relançada junto com Akira (a versão americana, que não está esgotada, pode ser adquirida na Amazon).
Nesse sentido, a obra-prima de Otomo é a animação Akira (idem, 1988), adaptação animada de uma série de mangás escritos e desenhados pelo próprio Otomo. Obra de produção intrincada - consistindo de 2212 tomadas a partir de 160.000 desenhos, uma quantidade 2 a 3 vezes maior que a usual, usando 327 cores diferentes sendo que mais de 50 delas foram criadas especialmente para o filme - foi a mais cara animação produzida no Japão até então. O resultado é uma sucessão de imagens que se gravam na retina pela força de seu impacto, desde as perseguições de moto até a apocalíptica destruição de NeoTokyo, cidade surgida dos destroços da antiga Tóquio e destinada a uma nova devastação. A movimentada trama, centrada nas lutas entre gangues e grupos políticos em torno de um poderoso grupo de paranormais criados para serem armas vivas nas mãos de organizações militares - derivada do universo de Brian de Palma e David Cronenberg - alcança os limites do delírio graças ao traço de Otomo, superior ao estilo tradicional dos animês, e à sua cuidadosa direção. Akira revelou ao grande público os estilos típicos de animação e quadrinhos de massa no Oriente, os mangás e animês de temática adulta, que logo chegariam à televisão. Filmes de ficção científica como a trilogia Matrix teriam forte inspiração no imaginário de Otomo. Não por acaso, a Warner já anunciou uma refilmagem live action de Akira a ser lançada como dois longas-metragens, superprodução que será dirigida pelo estreante Ruairi Robinson.
A edição brasileira do DVD, da Focus Filmes, está calcada na edição norte-americana da Geneon/Pioneer. Trata-se da versão restaurada, lançada em 2001, que custou cerca de US$ 1 milhão, resgatando o universo apocalíptico de Otomo de forma suntuosa. É possível encontrar outras animações desse criador japonês fora de catálogo no Brasil em lojas virtuais: Memories (idem, 1995), coletânea de três curtas animados apresentada por Otomo, que dirige um deles (os outros dois são dirigidos por Koji Morimoto e Tensai Okamura). Trata-se de uma pequena obra-prima da animação, que merecia ser relançada junto com Akira (a versão americana, que não está esgotada, pode ser adquirida na Amazon).