Terminal Mirage 22, de David Maisel.
The Lake Project 22, de David Maisel.
A simulação de paisagens do fim do mundo alcançou, no cinema dos últimos dez anos, dimensão realmente assustadora. A fantasia mais selvagem aparece como reflexo de questões históricas concretas como em War of the Worlds (Guerra dos mundos, 2005), de Steven Spielberg. Mas essa cenografia construída de forma complexa e barroca é menos sugestiva e assustadora que a realidade captada nas fotografias de Christoph Morlinghaus e David Maisel. Apesar de partirem de formatos e concepções diferentes, os dois fotógrafos focalizam em seus aparatos algo que se assemelha a uma cenografia de desolação que transforma as familiares paisagens/objetos de nosso planeta em algo de ameaçadoramente alienígena. Maisel, que utiliza intensamente a fotografia aérea para compor amplos panoramas de imagens que lembram as telas abstratas e áridas, mas coloridas, de Jackson Pollack, tem por preferência regiões radicalmente alteradas pela intervenção humana, como a série The Lake Project (imagens incríveis, que lembram paisagens marcianas, do lago Owens, na Califórnia, transformado pela especulação imobiliária na região mais poluída dos EUA). Outro projeto impressionante é Terminal Mirage, que mostra a perspectiva aérea, enigmática em seus verdes, ocres e alaranjados do Great Salt Lake, no noroeste do Utah.
Fotografias de Christopher Morlinghaus, parte de seu Portfolio 01
Já Christoph Morlinghaus tem por tema não as paisagens ecologicamente devastadas através de uma perspectiva aérea, quase divina, mas os locais e objetos cotidianos que, esvaziados da incessante presença humana, ganham configuração inquietante, como cenários de um apocalíptico extermínio. São corredores de prosaicos escritórios, conjuntos habitacionais modernos corroídos, amplos saguões, igrejas e parques de diversão vazios. A arquitetura moderna predominante adquire uma expressão titânica, simbolizada pela altura vertiginosa das paredes, expressão essa que parece mais funcional conforme a presença humana esteja aparentemente extinta. Sem seus usuários tradicionais, os edifícios e objetos focalizados por Morlinghaus ganham um tom ameaçador e alienígena, como se de um aparato de outra civilização se tratasse.
Supercomputador usado em simulações de armas atômicas por Simon Norfolk.
Outro fotógrafo especializado em retratar paisagens desoladas e a destruição em seu estado mais puro é Simon Norfolk, que busca em seu trabalho a representação de um "sublime militarizado", na definição de Geoff Manaugh, do BLDGBLOG. As fotos captadas por Norfolk retratam dois universos: os campos de batalha do Afeganistão e os sistemas de super-computadores que simulam explosões nucleares e demais formas de destruição total para criar cenários futuros para os planejadores montarem suas estratégias. A destruição em massa, banalizada, complementa-se e oscila do cenário real ao jogo de guerra.
Alcebiades Diniz Miguel