Stephen King é um autor consagrado que, não obstante o público numeroso de fãs que seguramente aguardam cada um de seus lançamentos com ansiedade, não deixa de realizar experiências no formato ou na distribuição de seus best sellers. Assim foi com o formato digital ou com o audiobook; portanto seria de se esperar que King e os experts de sua editora – a Scribner, uma divisão da Simon And Schuster – lançassem algum aplicativo para iPhone ou conteúdo exclusivo para os ebooks Kindle para seu novo romance, Under the Dome. Afinal, o cantor Nick Cave fez exatamente isso, lançando The Death of Bunny Munro em multiplas plataformas, com trilha sonora repleta de efeitos incluída, transformando tal pacote em lucrativo lance de marketing. Pois King optou, surpreendentemente, por concentrar parte da campanha de lançamento do romance na arte da capa: colorida, complexa e extensa, qualidades que as limitadas telas de celulares e ebooks não conseguem reproduzir.
De fato, o trabalho da capa de Under the Dome é primoroso: trata-se de uma combinação muito bem resolvida entre fotografia digital, ilustração e computação gráfica (CGI). Como o romance – de 1088 páginas – trata de um misterioso domo invisível que recobre uma localidade no interior dos EUA, levando sua população isolada ao apocalipse, King solicitou ao diretor de arte da Scribner, Rex Bonomelli, que criasse uma skyline da cidadezinha já isolada e sofrendo as consequências catastróficas de tal misterioso fenômeno. Bonomelli convocou artistas digitais de Nova Iorque e da América do Sul para criarem a capa, e o trabalho ganhou peso dramático e cinematográfico, aproveitando a horizontalidade do formato do livro para criar algo como um belo fotograma widescreen de um filme de ficção científica.
Levando-se em consideração a notícia de que King e sua editora optaram por atrasar o lançamento da versão eletrônica do livro, tradicionalmente mais barata, com medo de que a versão impressa encalhasse nas lojas e acabasse vendida por preço bem menor, o foco na sofisticada arte da capa pode ser considerado parte de uma estratégia que visa resgatar para o livro algo de seu encanto como objeto, encanto irreprodutível pelas monótonas telas dos leitores digitais.
Alcebiades Diniz Miguel