sexta-feira, dezembro 26, 2008

Mundos Visionários, Animação Visionária


Tim Burton é conhecido pelo universo muito pessoal que cria em cada uma de suas produções, especialmente na sofisticação de animações como O Estranho Mundo de Jack (The Nightmare Before Christmas, 1993) ou Noiva Cadáver (Corpse Bride, 2005). No momento, trabalha em sua versão de Alice in the Wonderland, que terá elementos live-action, stop motion e de animação computadorizada para exibição em 3D. No intervalo desse complexo trabalho que só ficará pronto em 2010, Burton uniu-se a outro adepto de um cinema fantástico calcado no maravilhamento pela imagem – embora dono de uma produção mais modesta e de um imaginário mais estereotipado –, Timur Bekmambetov, para produzir a versão longa-metragem do curta 9, de Shane Acker, indicado ao Oscar da categoria curta de animação em 2006.

A trama de 9 gira em torno de um mundo destruído por algum apocalipse, no qual um pequeno grupo de seres semelhantes a bonescos de pano, com números como nome, lutando contra máquinas gigantescas que se assemelham aos robôs destrutivos da trilogia Matrix. Abaixo, podem ser vistos tanto o curta original quanto o trailer da nova versão.





Alcebiades Diniz Miguel

segunda-feira, dezembro 22, 2008

Boas Festas aos Nossos Leitores



Aos leitores do Mil Olhos..., uma divertida animação natalina de Terry Gillian e o desejo de boas festas.

Alcebiades Diniz Miguel
Luiz Nazario

quinta-feira, dezembro 18, 2008

Novas Versões de Metropolis


Metropolis (Metropolis, Alemanha, 1927), de Fritz Lang, o primeiro filme da história do cinema a ser considerado Patrimônio Universal da Humanidade através de seu registro, no ano de 2000, no “Memory of the World” da UNESCO, ganhou, por ocasião de seus 75 anos, a mais minuciosa restauração digital que um clássico do cinema já mereceu. Este que foi o filme mais caro realizado pelo cinema alemão, custando 50 milhões de marcos (ou atuais 200 milhões de dólares, cf. BEYER, Friedemann. Metropolis. Unesco heut on line, 1º jan. 2002) e empregando 37 mil extras, tinha originalmente 210 minutos. Convencido pelos produtores a reduzir sua duração para o lançamento, que se deu a 10 de janeiro de 1927, em Berlim, Lang editou-o para 153 minutos. Mesmo assim, Metropolis fracassou nas bilheterias e, com o tempo, sua versão original se perdeu, assim como a versão editada por Lang.

Até os anos de 1940, circulava uma versão de 120 minutos editada pela Paramount. Em 1984, Metropolis ganhou uma “restauração” problemática por Giorgio Moroder, com 80 minutos e trilha sonora “pop”, que incluía o hit “Love Kills”, de Freddie Mercury e Moroder, cantada por Mercury. Através de um paciente cotejo de cópias, o crítico Enno Palatas realizou uma restauração mais cuidadosa, mas com apenas 93 minutos. Finalmente, em 2002, a Fundação Murnau revisou as cópias das versões sobreviventes nas diversas cinematecas do mundo; recolheu as melhores seqüências de cada cópia; digitalizou as imagens, devidamente tratadas, numa resolução de 2K, e reeditou Metropolis seguindo as indicações dos cartões de censura, dos 800 stills do filme e também da partitura original, encontrada nos espólios do compositor Gottfried Huppertz (com as anotações das cenas para a sincronia). A trilha original foi gravada pela Orquestra Sinfônica da Rádio de Saarbrücken sob a regência de Berndt Heller, e pode assim ser ouvida novamente pela primeira vez desde a estréia berlinense de 1927. Metropolis possuía agora uma duração de 147 minutos, muito próxima da versão originalmente lançada.

Este meticuloso trabalho, um verdadeiro quebra-cabeças, foi coroado com o relançamento de novas cópias do filme em festivais de cinema e o lançamento do DVD Metropolis no mercado mundial pela Kino on Video, nos EUA, e pela Continental, no Brasil. Mas pouco depois de ser assim longamente montado, o quebra-cabeça foi subitamente desmontado. A Fundação Murnau, que detém os direitos do filme e supervisionou a última e mais perfeita restauração, terá agora que despender mais alguns milhões de euros para realizar uma nova e necessária restauração...

É que, em julho de 2008, foi encontrada em Buenos Aires uma cópia em 16mm da versão de Metropolis editada em 1927 por Lang, e dada como perdida. Adolfo Wilson, da distribuidora Terra, levara a cópia para Buenos Aires em 1928 a fim de exibi-la nos cinemas argentinos. De suas mãos, a cópia passou para as do colecionador Manuel Peña Rodríguez, que, nos anos de 1960, a vendeu ao Fondo Artístico Nacional. Em 1992, a cópia foi parar no Museo del Cine Pablo C. Ducrós Hicke, de Buenos Aires. Sua diretora recém-empossada, Paula Félix-Didier, percebeu que a cópia tinha uma duração maior que as versões que conhecia, e a levou à Alemanha, onde, na redação do jornal Die Zeit, três especialistas da Cinemateca Alemã constataram tratar-se da versão lançada em Berlim. O restaurador Martin Koerber reconheceu cenas perdidas, que esclareciam o papel de alguns protagonistas, como o espião que vigia os passos de Freder, e outras que tornavam mais dramática a salvação das crianças dos trabalhadores (cf. Hallan la única copia completa de “Metrópolis” de Fritz Lang, que se encontraba en Buenos Aires. Ñ. Revista de Cultura, 2 jul. 2008).

Como se esta descoberta não bastasse, foi encontrada no Chile outra cópia da versão original de Metropolis. Depois do golpe de 1973, o então diretor da Cineteca de la Universidad de Chile, Pedro Chaskel, mudou os rótulos de algumas películas para evitar que fossem destruídas pelos militares. Metropolis fora um dos três filmes que inauguraram a Cineteca em 1960, juntamente com O gabinete do Doutor Caligari (1919), de Robert Wiene (cuja cópia logo foi roubada da Cineteca); e Napoleão (1927), de Abel Gance (então projetada em três telas simultâneas). Em 2005, Pedro Chaskel voltou a ser o diretor da Cineteca, e preocupou-se em recuperar 800 películas da Fundación “Imágenes en Movimiento”. Em 2006, quando essas películas, contidas em 2 mil latas, retornaram à Cineteca, esta priorizou a busca por filmes dos chilenos: Helvio Soto, Miguel Littin e Raúl Ruiz (de quem se encontrou o primeiro curta-metragem, La Maleta). O restaurador Luis Horta deparou-se então com uma película rara em 9,5 milímetros, com perfurações no meio, impossível de ser exibida nos projetores atuais (o formato era destinado ao consumo privado e foi substituído pelo de 8 milímetros com a falência da Pathé, que o fabricava). Constatou-se, recentemente, tratar-se de uma versão de Metropolis com 170 minutos, similar à do lançamento de 1927. A película será enviada à Fundação Murnau para análises. Algumas das cenas até hoje nunca vistas de Metropolis da cópia de Buenos Aires podem ser vistas em clipes do You Tube:

1. Deutche Welle, Long lost scenes from Metropolis (1927) / Verschollene Szenen Metropolis (1927), reportagem integral.
2. The German Film Magazine, reportagem em: 8’10’’ – 14’15’’].

Como um complemento a esta nova visitação pelos clipes de Metropolis, recomendamos também um raro momento da arte expressionista registrado no clipe filmado da “Dança da Feiticeira” de Mary Wigman [Mary Wigman’s Witch Dance], cuja coreografia sincopada e enlouquecida marcou o gestual mecânico dos operários robotizados (liderados por Heinrich George), do cientista louco (interpretado por Rudolf Klein-Rogge) e de sua mulher-robô (vivida por Brigitte Helm) no mítico filme de Fritz Lang.

Luiz Nazario